terça-feira, 27 de agosto de 2013

Bem-Vindo, Doutor!

- E qual será o plano?
- Simples. Na saída da palestra, quero ver todo mundo hostilizando aquela cambada de vagabundo. Vamos botar pra foder, deixar aqueles filhotes de Fidel com o cu na mão.
Terminaram de fumar e fecharam os olhos, como se estivessem lembrando das festas nos campos, nos grupos de estudos, da faculdade bancada, do consultório montado pelos pais, e de toda uma era onde a ameaça cubana estava longe de ser processo efetivo.

Terça-feira, o grande dia : Palestra de Apresentação.

Dois brasileiros repassam os últimos detalhes, e quando o primeiro "intruso" sai da sala o show começa. Era para ser apenas um simples curso de boas-vindas, uma apresentação dos costumes nacionais, do idioma, da forma de relação médico x paciente. Mas nos corredores, percebeu-se de imediato que a cordialidade de forma alguma tinha sido convidada.

De camisa amarela, o primeiro da fila observa um coro estérico e doentio, olhos sedentos, vaias em uníssono. Diziam que era por conta da reivindicação do tal Revalida, uma avaliação primordial para o conhecimento das aptidões médicas, principalmente quando os profissionais são de origem de outros países.

No mesmo dia, até jornalista já havia dito que as médicas que chegaram eram parecidas com empregadas domésticas e que Deus deveria proteger o nosso povo. Tudo conspirava para a intimidação.

Mas o Doutor Juan, - com sua camisa amarela comprada em Havana - não tinha medo desse povo. Todas as experiências de vida e de morte vividas em seu país calejaram a sua alma e fortaleceram a estrutura de seus caráter. Ao ver aqueles homens e mulheres, - todos de cabelos bem penteados e sedosos, de pele clara e bem tratada, de jaleco limpo e brilhante - não teve dúvidas que a vida no Brasil seria fácil.

Dr. Juan já sabia que neste país existe uma parte da população que ao invés de combater o câncer, se comportam como se fossem um. São um fragmento sujo e vergonhoso de nossa história, que só conduzem a as suas vidas no perímetro empobrecido de sua ignorância. São fracos, omissos, tendenciosos, protecionistas e sórdidos.

Ao virar as costas, o doutor olha para aquela cena e chama seus amigos de pátria para saírem do meio da tormenta. Quase cem pessoas , oriundas de outro país, de outra cultura. Em busca de um sentido, de uma vocação, chegaram apenas com a ideia de ajudar a nossa saúde, a nossa estrutura, os nossos problemas que estão longe de ser equacionados.

Ao chegarem próximo ao ônibus que levaria ao hotel, Dr. Juan sorri.

Os outros ainda estão tensos, - alguns calados, outros trocam palavras em forma de desabafo - mas é nessa hora que o médico cubano alarga ainda mais seu sorriso e pede a palavra.

Isso não é certo, não somos escravos. Seremos escravos da saúde, dos pacientes doentes, de quem estaremos ao lado todo o tempo necessário. Quando saímos do nosso país deixamos para trás as nossas origens, nossos amigos, até mesmo membros importantes das nossas famílias. Aqui, eles tem tudo: Formação nas melhores Faculdades, Especializações fora do país, dinheiro, muitos até tem fama com seus nomes. Eu só quero ter uma coisa, e espero que este seja o desejo de cada um que aqui está comigo. Quero que quando eu voltar, possa ter vivido uma experiência maravilhosa, ter salvado vidas, evitado mortes, e que todas as noites que tiver ao menos uma horinha de sono, eu durma um sonho tranquilo, tenha paz e a certeza de que o dever foi cumprido. Sei que todos estão com vontade de voltar lá e acabar com a raça deles. Mas a partir de amanhã eles serão nossos companheiros. Quem quiser um dia voltar para casa sendo aplaudido e não vaiado vai ter que vencer tudo isso e perceber que somos muito mais fortes do que todas as vaias que hoje recebemos. Vamos aonde os brasileiros não vão e teremos orgulho de nossa jornada. Vamos aonde os brasileiros não vão e teremos orgulho de nossa jornada.

Ao fim das palavras do Doutor Juan todos compartilham um silêncio visceral. Em harmonia, o grupo se divide nos três ônibus e logo é dada a partida.

Logo depois da largada do veículo, Dr. Juan franze a testa.

Mas não foram as vaias o motivo de sua aflição. Lembrou que ao sair da palestra esqueceu de saudar sua nova equipe médica.

Provavelmente muitos deles estavam no meio da multidão que o vaiava, mas o seu descuido fez com que enfim tivesse seu primeiro aborrecimento no Brasil.

domingo, 16 de junho de 2013

Vinténs




É amanhã!


Depois de 513 anos de exploração e resiliência, a população brasileira começa a dar seus primeiros passos em busca da liberdade.


Na próxima segunda, às 17:00h no Largo da Batata – São Paulo, mais de vinte mil pessoas são esperadas para começar a reescrever nossa história, mesmo que de forma tardia.


Pela primeira vez, Governo e Oposição, figuras míticas e místicas de nossa política, são julgados por um tribunal de vanguarda, regido por uma legislação de paz, vida e de respeito. 


Quando a Polícia Militar de São Paulo mostrou ao mundo seu despreparo e truculência nas manifestações de quinta-feira, deu todos os subsídios necessários para a criação de uma revolução.


O Personagem V de Vingança diria que “Não é o ato é o símbolo”; Já o Coringa sugeriu “Que não é pelo dinheiro. Trata-se de enviar uma mensagem”. Nós iremos dizer definitivamente que não é por 0,20 centavos, é por uma sociedade mais justa, menos repressiva, que invista seus recursos de forma transparente não deixando que o câncer da corrupção morda cada parcela desses “vinténs” que os cofres públicos vão se alimentar. 


A partir da última semana, o debate deixou de circular em torno da questão financeira, das condições do transporte público, da infraestrutura viária, do passe livre e dos aumentos (abusivos ou não) dos serviços prestados pelo aparelho do Estado; Virou uma questão de princípios constitucionais, de direitos cívicos, de guarda plena por uma cidade mais equânime. 


E foi protestando contra a dobradinha governo-oposição, que a luta cresceu e quebrou o viés local. 


Revigorada, expandiu-se pelas ruas, cresceu nas mídias sociais, até chegar a todo o globo, com adesão de mais de 27 países e atos de apoio em importantes esferas mundiais.


Amanhã, o mundo vai ouvir a nossa voz. E é pelo perigo de tudo aquilo que ainda temos a dizer que eles devem ter medo de nós.







“O povo não deve temer seu governo. É o governo que deve temer o seu povo”.